Todas as ideias geniais pareceram estúpidas à partida.

19.5.10

♥ Self Indulgence

Quando somos bebés somos o centro do mundo. Tudo o que existe á nossa volta, principalmente quem cuida de nós, materializou-se para satisfação das nossas necessidades. O bebé acredita que onde e quando ele nao existe, mais nada existe e que quando ele adormece o mundo fica em stand-by.

Quando somos crianças cai a realidade nua e crua de que os outros nao estao sempre a olhar para o bebé ou a falar do bebé. Que o bebé, afinal, nem tem piada nenhuma. Fazemos birras, temos as primeiras crises de identidade, vem a primeira maldade quando partimos coisas de propósito.

Quanto mais crescemos mais queremos nos misturar, fazer parte do mundo custe o que custar. O adolescente típico deseja ser igual aos que 'estao na moda', fazer parte de grupos cool. Se nao se consegue enquadrar, diz que foi de propósito e repete a quem quiser ouvir que é feliz assim, até a si mesmo.

Surpreendentemente, tudo muda de novo anos mais tarde. Em adultos, nao gostamos de estar totalmente fora de moda, mas professamos ter um estilo só nosso. Nao gostamos de ser descriminados, mas adoramos dizer a meio mundo que somos diferentes. E sentimos aquele sabor picante de superioridade quando nos dizem que somos simplesmente loucos. Mesmo que acrescentem que esta loucura é mau sinal, convencemo-nos inconscientemente que a nossa é genial.

Apartir daí é o descalabro. Voltamos a pensar que somos o centro do mundo, mas desta vez nao precisamos de audiencias. Quanto mais envelhecemos mais nos enrolamos em manias, teimosias e esquisitices até sermos insuportáveis até para nós mesmos. Tornamo-nos moralistas. Achamos que sabemos de tudo porque já vivemos muita coisa, esquecendo-nos que toda a gente á nossa volta viveu algo semelhante.

Devesenquando acordamos e sentimos o quanto somos um ponto microscópico no Cosmos. Envergonhamo-nos, odeamo-nos, reconstruimo-nos por um 'eu' melhor, lutando contra o hábito de falar demais e ouvir de menos. Pensamos mais vezes na idade, no apressado dos anos, no tempo...

Mas por muito que tentemos sacudir esta mania de self-indulgence, no dia da nossa morte volta a criança que acredita ser inesquecível e o bebé que pensa que o mundo ficará em stand-by.

♥ Matilda | matilda.writing@gmail.com

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